Comunidades Compassivas: Inovação nos Cuidados Paliativos e o Impacto Transformador

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Iniciativa de desenvolvimento comunitária associada a cuidados paliativos, as Comunidades Compassivas consistem em grupos de vizinhos que se unem para organizar formas de auxiliar as pessoas da sua comunidade que vivem com uma doença grave e seus familiares em situações de luto ou perda.

Neste artigo, vamos entender a tamanha relevância deste tema, que foi inclusive destaque em Cuidados Paliativos para o ano de 2023, demonstrando como a compaixão ativa e a colaboração entre profissionais de saúde e comunidades estão transformando os cuidados ao próximo. Vamos compreender, também, como essas iniciativas ultrapassam fronteiras, gerando mudanças sociais e emocionais significativas e oferecendo uma perspectiva inspiradora para o futuro dos Cuidados Paliativos.

 

O que são Comunidades Compassivas? 

As Comunidades Compassivas, tema internacional de destaque em Cuidados Paliativos para 2023, representam uma abordagem abrangente de saúde pública, proporcionando suporte às pessoas que vivem com uma doença grave e seus familiares em situações de luto ou perda. Essas comunidades, delineadas por Kellehear, sociólogo médico e de saúde pública, são redes de apoio naturalmente emergentes em vizinhanças e comunidades. Elas envolvem cidadãos, incentivando-os a se informar sobre a morte, o morrer e o cuidado, adaptando suas práticas para apoiar ativamente aqueles no final da vida.

Profissionais de saúde nas Comunidades Compassivas não apenas oferecem cuidados diretos, mas também integram e capacitam membros da sociedade para cuidarem uns dos outros.

Em face de desafios complexos, como a desigualdade social, esses coletivos ultrapassam barreiras, preenchendo lacunas onde o Estado não conseguiu chegar. Acesso limitado a medicamentos, saneamento básico, moradia digna e alimentação adequada são desafios enfrentados diariamente, exigindo abordagens inovadoras e resilientes.

Kellehear, cuja visão norteia esse paradigma, destaca a importância de transformar comunidades em ambientes ativos e informados sobre questões de morte, cuidado, perda e luto. Sua filosofia influencia a atuação desses profissionais de saúde, que se tornam catalisadores de uma mudança social significativa.

Quer saber mais sobre Cuidados Paliativos? Aqui nesse artigo falamos mais sobre o tema. 

 

O que é Compaixão?

A compaixão é mais do que um simples ato de empatia; é um compromisso ativo com a redução do sofrimento alheio. Esse nobre sentimento transcende as fronteiras da compreensão para se tornar uma força motriz, impulsionando ações práticas em prol do alívio das dores humanas.

Em sua base, a compaixão não se limita a compartilhar os fardos emocionais de outros, mas se manifesta como uma determinação constante de fazer tudo o que estiver ao alcance para aliviar suas aflições. É a expressão mais pura da solidariedade, um ato de cuidado genuíno que vai além das palavras, encontrando sua materialização em gestos concretos e apoio incondicional.

Nas comunidades onde a compaixão floresce, ela se torna um elemento essencial do tecido social. Cada indivíduo compromete-se não apenas a entender a dor do outro, mas a agir de maneira proativa na busca por alívio. Essa atitude transformadora não apenas humaniza as relações, mas também estabelece um padrão elevado de responsabilidade coletiva.

 

Projeto Favela Compassiva Rocinha e Vidigal 

O Projeto Favela Compassiva, iniciado em 2018, nas comunidades da Rocinha e do Vidigal, no Rio de Janeiro, é uma notável iniciativa baseada no conceito de comunidades compassivas. Sob a liderança do enfermeiro, professor e doutor em Cuidados Paliativos, Alexandre Ernesto Silva, esta empreitada comunitária busca promover uma transformação social significativa. A essência do projeto reside na colaboração entre moradores locais e uma equipe diversificada de profissionais de saúde voluntários.

No recente I Encontro de Comunidades Compassivas, agentes influentes se reuniram para compartilhar conhecimentos e estratégias. Esse evento reflete o compromisso coletivo em fortalecer e expandir iniciativas que transcendem os limites tradicionais dos cuidados paliativos, moldando um futuro em que a compaixão é o cerne das práticas de saúde comunitária.

Esta rede de apoio abrange uma variedade de especialidades, incluindo enfermeiros, médicos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, dentistas, assistentes sociais, psicólogos, fisioterapeutas, nutricionistas, educadores físicos e capelães. Juntos, esses voluntários se dedicam a realizar visitas periódicas, oferecendo acolhimento e assistência aos pacientes que enfrentam doenças graves ameaçadoras da vida.

A Favela Compassiva não tem o objetivo de substituir as responsabilidades do poder público, mas sim de atuar como um complemento primordial. O propósito fundamental é criar uma mudança social por meio de uma rede solidamente fundamentada em laços comunitários, proporcionando dignidade aos pacientes em Cuidados Paliativos. O sucesso dessa abordagem inspiradora não se limita apenas à Rocinha e ao Vidigal; ela tem servido de modelo, estimulando o surgimento de outras comunidades compassivas em todo o país.

 A visão do projeto vai além do âmbito médico, abraçando uma perspectiva holística que reconhece o impacto psicológico, social e emocional das doenças graves. As visitas periódicas não apenas oferecem assistência clínica, mas também promovem um ambiente de compaixão, fortalecendo os vínculos dentro da comunidade.

A iniciativa destaca-se como um exemplo inspirador de como a colaboração entre profissionais de saúde e membros da comunidade pode efetivamente criar uma mudança positiva. Ao unir forças, esses voluntários demonstram que a compaixão pode ser uma força poderosa na construção de uma nova realidade social, onde o cuidado e o apoio são oferecidos de forma inclusiva e sustentável.

Saiba mais sobre o projeto. 

 

Resultados

Os resultados obtidos revelam um conjunto de transformações positivas, construindo uma rede de apoio que vai além do cuidado direto aos pacientes. A influência se estende às esferas emocionais e sociais, tocando a vida dos familiares, que encontram suporte e compaixão em momentos desafiadores. Além disso, o impacto positivo se espalha pela comunidade, gerando ondas de solidariedade e consciência sobre a importância dos Cuidados Paliativos.

O sucesso dessas iniciativas inspira não apenas pela quantidade, mas pela profundidade das mudanças que estão sendo catalisadas. Cada vida assistida e cada família apoiada são testemunhos eloquentes da eficácia desse modelo de cuidado. A continuidade desse trabalho não apenas se justifica, mas se impõe como uma necessidade crucial diante da realidade complexa que envolve o fim da vida.

 

No mapa

Segundo a WHPCA, centenas de Comunidades Compassivas foram criadas recentemente ao redor do mundo. Aqui no Brasil, além do Rio de Janeiro, já há Comunidades Compassivas nos estados de Belo Horizonte, Goiás e São Paulo.

Embora os Cuidados Paliativos sejam dedicados a qualquer pessoa com uma doença grave, a partir do momento do diagnóstico, o foco principal das Comunidades Compassivas é o de pessoas próximas à terminalidade.

"Comunidades Compassivas apoiam as pessoas em fim de vida e suas famílias de várias maneiras: as ajudam a viver em suas casas, as conectam aos serviços, aumentam a conscientização sobre o fim da vida e desenvolvem a capacidade de empatia e compaixão entre as pessoas na comunidade."

Conheça mais sobre Comunidades Compassivas nesta reportagem de Cláudia Collucci para a Folha de S.Paulo.

Criado por Pedro Accorsi
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Estagiário de Comunicação do Instituto Paliar, é estudante de Jornalismo na Escola Superior de Propaganda e Marketing.