Resumo Colaborativo: o que aconteceu no segundo dia do 4º Curso Avançado de Cuidados Paliativos
Curso Internacional Avançado de Cuidados Paliativos do Instituto Paliar
Nos dias 9 e 10 de maio, o Instituto Paliar realizou a quarta edição do Curso Avançado de Cuidados Paliativos. Para registrar os principais conteúdos e reflexões do segundo dia, a enfermeira Ana Carolina Machado de Andrade Lima — especialista em Oncologia e Cuidados Paliativos, professora convidada da Faculdade de Medicina do ABC, Head de Conteúdos da Ophicina de Cuidados Paliativos e membro do GT de Cuidados Paliativos do TJCC — elaborou, de forma voluntária, um resumo que valoriza o aprendizado coletivo e a partilha de saberes.
A proposta é oferecer aos profissionais uma ferramenta de atualização e inspiração contínua no cuidado integral e humanizado.
Boa leitura!
Curso Avançado de Cuidados Paliativos
Instituto Paliar 09 e 10 de maio modalidade híbrida
Museu da Arte Moderna – MASP - Avenida Paulista
BLOCO III - EDUCAÇÃO E INOVAÇÃO - NOSSA RESPONSABILIDADE COM A PRODUÇÃO E DISSEMINAÇÃO DO CONHECIMENTO Moderadora do bloco (PALIAR): Carolina Menezes
MESA 1 - DESAFIOS NA EDUCAÇÃO E PESQUISA EM CUIDADO PALIATIVO
- Como ensinar competências não técnicas Dalva Yukie Matsumoto
- Caracterização e perspectivas da educação em Cuidados Paliativos no Brasil: graduação médica, pós-graduação e residências : Ricardo Tavares de Carvalho
- Inovação na Pesquisa nos Cuidados Paliativos : Ricardo Tavares de Carvalho
MESA 2: "A TECNOLOGIA, O ENSINO E A ASSISTÊNCIA PALIATIVISTA MODERNA"
- Teleconsultas em Cuidados Paliativos: retrocesso? Isabella Bordim Rosa
- A Saúde 5.0 e a tecnologia como aliadas para o Cuidado Paliativo: olhando para o futuro : Linamara Rizzo Battistela
O terceiro bloco do evento trouxe uma rica discussão sobre os desafios na formação, na pesquisa e na incorporação da tecnologia no campo dos Cuidados Paliativos. As mesas destacaram a responsabilidade compartilhada de educadores, profissionais de saúde e instituições na construção de uma cultura de cuidado sensível, científica e integrada.
A primeira mesa, voltada para os desafios na educação e pesquisa, teve início com a palestra de Dalva Yukie Matsumoto, que abordou o ensino de competências não técnicas em Cuidados Paliativos. Com base em sua vasta experiência, Dalva destacou que os currículos formais da saúde não ensinam a gestão emocional, deixando os futuros profissionais despreparados para lidar com o sofrimento, o luto, os limites terapêuticos e as questões humanas mais profundas. Segundo ela, "o paliativista dá de si", e por isso é essencial que seja preparado também para cuidar de si e dos aspectos emocionais que atravessam o cuidado.
Dalva propôs um conjunto de estratégias educativas que vêm sendo utilizadas com bons resultados:
1. Aprendizagem baseada em simulações, com atores representando pacientes e os alunos sendo desafiados a responder de forma realista;
2. Role-playing e dramatizações, permitindo que os estudantes assumam diferentes papéis;
3. Discussão de casos clínicos, com foco nas dimensões emocionais e éticas envolvidas;
4.Reflexão pessoal e escrita reflexiva, como formas de reconhecer as próprias dores e desenvolver empatia;
5. Grupos Balint ou rodas de conversa, voltados à relação médico-paciente e às vivências profissionais;
6. Supervisão clínica com feedback estruturado, realizada por profissionais experientes de maneira respeitosa e construtiva;
7. Oficinas com metodologias ativas, incluindo temas como espiritualidade, morte, Word Café e o Teatro do Oprimido, no qual o público pode interagir e transformar a cena;
8. Educação interprofissional, promovendo o diálogo entre diferentes saberes e fortalecendo a colaboração na equipe de cuidados.
Na sequência, Ricardo Tavares de Carvalho apresentou um panorama atualizado da formação em Cuidados Paliativos no Brasil, desde a graduação médica até a pós-graduação e as residências. Mostrou a necessidade de estruturar um caminho formativo consistente e transversal, que envolva diferentes níveis de ensino e promova a produção de conhecimento por meio da pesquisa inovadora. Ricardo também compartilhou dois grandes projetos desenvolvidos pelo Hospital das Clínicas FMUSP, com foco na qualificação técnica e humana dos profissionais de saúde.
A segunda mesa do bloco se concentrou na relação entre tecnologia, ensino e assistência no cenário moderno da paliatividade. A teleconsulta foi um dos principais temas tratados por Isabella Bordim Rosa, que trouxe reflexões a partir da prática e da observação do serviço. Ela destacou como a teleconsulta pode ser uma aliada importante na redução de deslocamentos, na economia de energia física dos pacientes e na otimização dos processos assistenciais. Em casos de internação, por exemplo, é possível realizar uma teleavaliação e programar a internação direta no setor adequado, evitando a passagem desgastante pelo pronto atendimento.
Além disso, a modalidade permite um olhar mais íntimo da realidade do paciente, pois ao "entrar na casa" dele por meio da câmera, é possível observar aspectos psicossociais, dinâmicas familiares e a rotina, o que influencia diretamente no plano de cuidado. Há, ainda, o benefício da construção de vínculo mesmo à distância, especialmente quando há constância e confiança na equipe que realiza o acompanhamento remoto.
Entretanto, Isabella também chamou a atenção para os limites e desafios da teleconsulta: muitos pacientes não têm acesso adequado à internet ou não sabem usar os sistemas digitais; e há aqueles que valorizam o comparecimento presencial como um momento de socialização e lazer, algo que pode se perder na dinâmica remota. A mensagem deixada foi clara: a tecnologia pode ser uma aliada, mas não é uma solução única e universal – é preciso considerar as particularidades de cada população.
Complementando o debate, Linamara Rizzo Battistela trouxe o conceito de Saúde 5.0, que propõe uma integração profunda entre tecnologia e humanidade, com foco na personalização, na eficiência e na sensibilidade do cuidado. Para ela, o futuro dos Cuidados Paliativos passa necessariamente por essa incorporação inteligente das ferramentas digitais, que devem servir para ampliar o acesso e potencializar o toque humano, nunca substituí-lo.
Este bloco reforçou que a inovação, quando enraizada na escuta e na ética do cuidado, pode transformar realidades. A formação de qualidade e o uso consciente da tecnologia são caminhos indispensáveis para a construção de um sistema de saúde mais justo, acessível e compassivo.
BLOCO IV - “PALIATIVISTA FORA DA CAIXINHA” Moderadora do bloco (PALIAR): Regina Liberato
MESA 1: "PARA ALÉM DOS OPIÓIDES"
- Cannabis Medicinal em Cuidados Paliativos: Há evidências do uso para controle de sintomas? : Alexander Moreira-Almeida
- Perspectivas e evidências do uso de psicodélicos em Cuidados Paliativos : Henrique Ribeiro Debate
MESA 2: "A ESPIRITUALIDADE E O PALIATIVISTA"
- Auto conhecimento e evolução de consciência como ferramentas voltadas para lidar com nossa transcendência: José Antônio Curiati
- Espiritualidade e ciência: Experiências peri morte e aquilo que de fato morre em nós: Alexander Moreira-Almeida
O último bloco do evento, provocativamente intitulado “Paliativista fora da caixinha”, teve como propósito expandir fronteiras conceituais e desafiar os limites tradicionais do cuidado paliativo. As mesas exploraram o uso de terapias emergentes, como a cannabis medicinal e os psicodélicos, além de abordagens espirituais e filosóficas para ampliar a compreensão da vida, da morte e do papel do profissional de saúde nesse contexto.
Na Mesa 1 – Para além dos opioides, o psiquiatra Alexander Moreira-Almeida apresentou uma aula esclarecedora sobre o uso da cannabis medicinal no controle de sintomas refratários em pacientes com doenças graves. Destacou que o foco dos cuidados paliativos é aliviar o sofrimento e promover qualidade de vida, principalmente quando os tratamentos convencionais já não oferecem resultados satisfatórios. Sintomas como dor crônica, náuseas, insônia, ansiedade e perda de apetite foram discutidos como indicativos para o uso de compostos da cannabis, especialmente o THC e o CBD.
Evidências científicas:
- Existem algumas evidências de que compostos da cannabis (THC e CBD) podem ser úteis no controle de sintomas como dor neuropática, espasticidade, náuseas e ansiedade.
- No entanto, os ensaios clínicos são limitados, com resultados variados e muitas vezes inconclusivos.
- A maioria das evidências é moderada a fraca, o que exige cautela e individualização na prescrição.
Segurança e efeitos colaterais:
- A cannabis medicinal pode causar efeitos adversos como sonolência, tontura, alterações cognitivas e cardiovasculares.
- A tolerância individual é variável, e os riscos devem ser ponderados frente aos benefícios.
Embora existam evidências científicas iniciais mostrando benefícios, Moreira-Almeida alertou que os ensaios clínicos ainda são limitados e com resultados variados. A maior parte das evidências ainda é classificada como moderada a fraca, exigindo cautela e prescrição individualizada. Ele também abordou os efeitos adversos mais comuns – como sonolência, tontura, alterações cognitivas e cardiovasculares – e reforçou que o perfil de segurança é variável de acordo com cada paciente. Sua conclusão foi clara: a cannabis pode sim ser considerada uma alternativa terapêutica quando outras abordagens falham, mas seu uso deve ser ético, bem indicado e sempre monitorado por profissionais qualificados.
Em seguida, Henrique Ribeiro apresentou a aula-debate sobre as perspectivas e evidências do uso de psicodélicos como ferramenta terapêutica em cuidados paliativos. Ele destacou que pacientes em final de vida frequentemente enfrentam sofrimento emocional e existencial intenso, incluindo medo da morte, perda de sentido, depressão e ansiedade. Psicodélicos como psilocibina, LSD e MDMA têm sido investigados como instrumentos capazes de provocar experiências transformadoras, promovendo aceitação e espiritualidade profunda.
Estudos recentes com psilocibina, por exemplo, têm demonstrado redução significativa da ansiedade e depressão em pacientes com câncer avançado. Muitos relatam vivências espirituais e um senso renovado de paz e conexão, com efeitos duradouros no bem-estar. Henrique explicou que os possíveis mecanismos terapêuticos envolvem a expansão da consciência e a ruptura de padrões mentais rígidos, favorecendo uma nova percepção da vida e da morte. Os tratamentos são feitos em ambiente controlado e com apoio psicológico intensivo antes, durante e após o uso da substância. Apesar do otimismo, ele lembrou que os psicodélicos ainda são substâncias controladas e sua aplicação clínica requer rigor ético, protocolos seguros e regulamentação adequada.
Pontos principais:
Contexto clínico e existencial:
- Pacientes com doanças ameaçadoras da vida frequentemente enfrentam ansiedade, depressão, medo da morte e perda de sentido.
- Psicodélicos são investigados como formas de proporcionar experiências transformadoras, promovendo aceitação, paz e espiritualidade.
Evidências emergentes:
- Estudos recentes, especialmente com psilocibina, mostram resultados promissores na redução de ansiedade e depressão existencial em pacientes com câncer avançado.
- As experiências psicodélicas costumam ser descritas como profundamente significativas e espirituais, com efeitos duradouros no bem-estar.
Mecanismos terapêuticos:
- Acredita-se que o efeito terapêutico esteja ligado a uma expansão da consciência, ruptura de padrões rígidos de pensamento e reconexão com o sentido da vida e da morte.
- São administrados em ambiente controlado, com apoio psicológico intensivo antes, durante e após a experiência.
Segurança e regulamentação:
- Embora promissores, os psicodélicos ainda são substâncias controladas e requerem protocolos rigorosos para pesquisa e aplicação clínica.
- O uso deve ser conduzido por profissionais qualificados e dentro de contexto legal e ético seguro.
Essas discussões abriram espaço para repensar práticas e apontar para uma nova fronteira nos Cuidados Paliativos: a de um cuidado que acolhe o sofrimento psicoespiritual com abertura, ciência e humanidade.
Na Mesa 2 – A espiritualidade e o paliativista, o foco deslocou-se para dentro: o autoconhecimento, a transcendência e a interseção entre espiritualidade e ciência. O psiquiatra Alexander Moreira-Almeida retornou com uma apresentação dedicada às Experiências de Quase Morte (EQMs), propondo uma reflexão sobre o que realmente morre em nós. As EQMs, segundo ele, são fenômenos legítimos para investigação científica, e relatos consistentes em diferentes culturas indicam vivências lúcidas durante estados de morte clínica, como saída do corpo, revisão da vida, sensação de paz e encontro com seres espirituais.
Ele questionou o modelo materialista que associa a mente exclusivamente ao cérebro, sugerindo que essas experiências indicam uma possível natureza não-local da consciência. Para ele, o que morre é apenas o corpo físico, enquanto a consciência pode continuar existindo – uma visão que desafia a ciência tradicional, mas que não abandona o rigor metodológico. Moreira-Almeida defendeu uma ponte entre ciência e espiritualidade, em que os fenômenos espirituais possam ser estudados com seriedade, mente aberta e ética. Essa mudança de paradigma traz implicações importantes para a prática médica, pois reconhecer a possibilidade de continuidade da consciência transforma a forma como cuidamos, vivemos e enfrentamos a morte.
Nesta aula, Alexander Moreira-Almeida aborda a relação entre espiritualidade e ciência, com foco especial nas Experiências de Quase Morte (EQMs) como fenômenos que desafiam a visão materialista da consciência. A discussão é baseada em estudos científicos e filosóficos sobre o que permanece e o que se transforma no processo da morte.
Pontos principais:
1. EQMs como fenômeno legítimo de estudo científico
- As EQMs ocorrem em situações de parada cardíaca ou morte clínica, em que a pessoa relata vivências lúcidas, como: sensação de paz, saída do corpo, visão panorâmica da vida e encontro com seres espirituais.
- Esses relatos são consistentes em diferentes culturas e épocas, o que reforça sua validade.
2. A consciência pode existir fora do cérebro?
- Moreira-Almeida questiona o modelo reducionista que considera a mente um produto exclusivo do cérebro.
- As EQMs sugerem que a consciência pode persistir mesmo com a atividade cerebral mínima ou nula, o que aponta para uma possível natureza não-local da mente.
3. O que realmente "morre" em nós?
- A aula propõe que o que morre é apenas o corpo físico, enquanto a consciência (ou espírito, dependendo da perspectiva) pode continuar existindo.
- Isso abre espaço para uma visão mais espiritual da existência humana, sem abandonar os critérios científicos.
4. Pontes entre espiritualidade e ciência
- Moreira-Almeida defende que espiritualidade e ciência não são opostas, mas complementares.
- A ciência pode (e deve) investigar fenômenos espirituais com rigor metodológico e mente aberta, respeitando os limites éticos e epistemológicos.
5. Implicações para a vida e a medicina
- Compreender a possibilidade de continuidade da consciência após a morte muda nossa relação com a vida, o sofrimento e o cuidado com os outros.
- A espiritualidade deve ser considerada na prática médica como parte do cuidado integral ao ser humano.
A aula de Alexander Moreira-Almeida propõe que as experiências de quase morte são indícios de que a consciência pode sobreviver à morte física, desafiando a visão estritamente materialista da ciência. Ele defende uma abordagem integrativa entre espiritualidade e ciência, onde o estudo sério e ético de fenômenos como as EQMs pode ampliar nossa compreensão sobre o que somos, o que morre em nós e o que permanece.
Complementando essa abordagem, o médico José Antônio Curiati apresentou uma aula profunda sobre autoconhecimento e evolução da consciência como ferramentas de transcendência. Com mais de 40 anos de experiência em práticas meditativas, Curiati convidou os participantes a pensarem a espiritualidade como parte fundamental da saúde integral. Segundo ele, conhecer a si mesmo é o primeiro passo para libertar-se de condicionamentos e viver de forma mais consciente. A evolução da consciência é um processo contínuo de expansão da percepção, que nos aproxima da nossa essência espiritual e nos afasta dos automatismos cotidianos.
A transcendência, para Curiati, não é uma negação da vida, mas uma maneira mais profunda de vivê-la. E para alcançá-la, ele propõe práticas como a meditação, a introspecção, a ética, o cultivo de virtudes como compaixão e humildade, e o esforço contínuo de alinhar ciência, filosofia e espiritualidade. Lembrou também que o despertar da consciência é um ato coletivo, pois ao nos transformarmos, transformamos o mundo ao nosso redor. Sua conclusão foi de que o autoconhecimento é um caminho de libertação que nos permite viver com mais presença, sentido e amor.
Nesta aula, José Antônio Curiati propõe uma reflexão profunda sobre a importância do autoconhecimento e da evolução da consciência como meios para nos prepararmos para a transcendência, ou seja, a superação dos limites materiais e a ampliação da percepção espiritual.
Pontos-chave da aula:
1. Autoconhecimento como ponto de partida
- Conhecer a si mesmo é essencial para compreender nossas emoções, pensamentos e padrões de comportamento.
- O autoconhecimento nos liberta de automatismos e abre espaço para escolhas mais conscientes.
2. Evolução da consciência
- Envolve a expansão da percepção para além do ego e das preocupações cotidianas.
- É um processo contínuo de despertar interior, que nos aproxima de nossa essência espiritual.
3.Transcendência como meta humana
- Ir além da matéria e do ego é um objetivo existencial.
- A transcendência não é um afastamento da vida, mas uma forma mais profunda de vivê-la com significado e propósito.
4. Práticas e atitudes
- A meditação, a introspecção, a ética nas ações e o cultivo de virtudes (como compaixão, humildade e amor) são caminhos para essa evolução.
- A integração entre ciência, filosofia e espiritualidade é defendida como uma abordagem completa para esse processo.
5. Responsabilidade individual e coletiva
- O despertar da consciência não é apenas um ato individual, mas tem impacto direto na sociedade e no planeta.
- Curiati sugere que o autoconhecimento leva à construção de um mundo mais justo, equilibrado e harmônico.
Em sua fala final, Curiati ressaltou que a meditação não é apenas uma técnica, mas um estado que acontece naturalmente quando corpo, mente e ambiente estão em harmonia. “Não é fazer, é esperar. Apenas espere, que vai acontecer”, disse. Descreveu estados meditativos como o Samadhi, no qual a mente se aquieta, o coração se entrega, e o ser se alegra de dentro para fora – o “riso interior”, como ele chamou, seria o primeiro sinal desse estado. Compartilhou também ensinamentos sobre o desapego, a prática do P’Howa (transferência de consciência na hora da morte, do budismo), e fez referência à frase bíblica: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito.” – reforçando a importância do último pensamento e da última emoção na hora de partir.
O Bloco IV concluiu o evento de forma inspiradora e provocadora, lembrando que o cuidado paliativo não se limita ao controle de sintomas ou à gestão do tempo de vida, mas se amplia como um campo de presença, sentido, espiritualidade e inovação. Um cuidado que desafia fronteiras e exige do profissional não apenas conhecimento técnico, mas profundidade humana.
CONCLUSÃO
O Curso Avançado de Cuidados Paliativos, realizado pelo Instituto Paliar, proporcionou uma imersão profunda e plural nos fundamentos e avanços dessa prática essencial para o cuidado em saúde. Dividido em quatro blocos temáticos, o evento abordou desde os desafios de gestão e implementação de políticas públicas — destacando o cenário da América Latina e a importância da territorialização do cuidado — até a qualificação da assistência, com foco na mensuração da qualidade, no enfrentamento de situações complexas e na urgência do autocuidado dos profissionais. Na sequência, o módulo sobre educação e inovação discutiu estratégias para o ensino de competências emocionais e a integração consciente das tecnologias como aliadas do cuidado.
Por fim, o bloco “fora da caixinha” ampliou os horizontes ao explorar terapias emergentes, como cannabis medicinal e psicodélicos, e refletir sobre a espiritualidade, a consciência e a transcendência, propondo um cuidado que une ciência, presença e sentido. O evento reafirmou que os Cuidados Paliativos são, acima de tudo, um compromisso com a dignidade da vida em todas as suas fases — e com a humanidade de quem cuida.